
O câncer de mama é o segundo tumor maligno mais incidente no Brasil, depois do pele não melanoma, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). A principal forma de diagnosticar a doença é por meio da realização da mamografia. O exame identifica microcalcificações, assimetrias, nódulos ou lesões que não seriam possíveis de identificar apenas com o toque. Entretanto, como todo exame, ele não é 100% preciso e algumas alterações podem passar despercebidas.
Para aumentar as taxas do diagnóstico precoce desse tipo de tumor, diversos grupos de pesquisa e serviços de saúde avaliam a incorporação de ferramentas de inteligência artificial aos exames de imagem. Agora, essa ferramenta começa a chegar à prática clínica dos centros de diagnóstico no Brasil. A BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, eleita um dos principais hospitais do setor de oncologia do mundo pela Newsweek, decidiu adotar uma ferramenta que, quando incorporada à mamografia, diagnostica o câncer de mama com 97% de precisão.
Na prática, a inteligência artificial desenvolvida pela empresa coreana Lunit faz uma análise dos exames de mamografia para detectar focos suspeitos de câncer de mama, como microcalcificações e nódulos mamários. Quando o local do suposto tumor é identificado, o programa faz uma espécie de marcação no ponto exato para facilitar a análise do médico que irá finalizar o laudo do exame.
— Quando falamos em inteligência artificial, estamos falando de uma ferramenta que analisa pixel a pixel da imagem. Ela vai em um nível que não está ao alcance do olho humano e a ideia é que ela detecte algo que poderia passar despercebido. O grande mote é amplificar o olhar do médico. Nunca substituir, mas ajudar — diz Lilian Quintal Hoffmann, diretora de Inovação e Tecnologia da BP.
Para alcançar a alta taxa de precisão, o algoritmo usado na tecnologia passou por treinamento em alta escala, com cerca de 200 mil imagens de resultados clínicos de biópsias com alta qualidade. Entretanto, antes da implementação dessa ferramenta no dia a dia do hospital, ele é submetido a uma fase de testes para garantir que a precisão observada no estudo é válida para o cenário brasileiro.
Por isso, a primeira fase buscou avaliar a acurácia da tecnologia por meio de sua aplicação em 80 mamografias com diagnóstico já confirmado de câncer de mama. Na segunda fase, já em andamento, todos os exames realizados na BP, mas ainda sem diagnóstico confirmado, serão analisados. Até o momento, os resultados são promissores. Se isso se confirmar, a ideia é que a ferramenta seja incorporada à rotina do hospital, analisando toda mamografia realizada no local, sem custos adicionais para o paciente.
— A ferramenta olha para a imagem e marca se ela é sugestiva de uma microcalcificação ou um nódulo mamário, por exemplo. O objetivo é a detecção do câncer o mais precoce possível por que, literalmente, quanto antes se agir, maior o índice de cura. Isso também se traduz em diminuição do custo da saúde — avalia Hoffmann.
O câncer de mama é causado pela multiplicação desordenada de células anormais da mama, que forma um tumor com potencial de invadir outros órgãos. Há vários tipos de tumor na região. Alguns têm desenvolvimento rápido, enquanto outros crescem lentamente. Entretanto, há algo em comum entre eles: a maioria dos casos, quando tratados adequadamente e em tempo oportuno, apresentam bom prognóstico.
Outra vantagem desse tipo de ferramenta é otimizar a fila de laudos ao organizá-la dando prioridade para que o médico avalie primeiro exames com resultados mais sugestivos de câncer, por exemplo.
Esse tipo de ferramenta está avançando tanto que consegue auxiliar até mesmo na indicação do melhor tratamento. Pesquisadores canadenses desenvolveram um algoritmo de inteligência artificial para prever se mulheres com câncer de mama se beneficiariam da quimioterapia antes da cirurgia.
O modelo foi apresentado na conferência internacional de IA NeurIPS 2022 e disponibilizado publicamente por meio da iniciativa Cancer-Net para que outros pesquisadores possam ajudar a avançar no aprimoramento da tecnologia.
(Fonte: O Globo)