
Pesquisadores do Instituto de Ciências Matemáticas de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um algoritmo que, segundo os experimentos, consegue detectar uma notícia falsa com 96% de precisão.
A ferramenta, que funcionará no site www.fakenewsbr.com, será calibrada e passará por novos testes ao longo dos próximos meses, especialmente durante a pandemia de covid e as eleições marcadas para outubro de 2022.
O estatístico Francisco Louzada, um dos coordenadores do projeto, diz que a proposta é trazer uma análise objetiva, feita por meio de inteligência artificial, à avaliação subjetiva que os seres humanos fazem quando avaliam a veracidade de um texto jornalístico.
“Nós aliamos diversos modelos matemáticos que são capazes de identificar se uma notícia corresponde à realidade dos fatos ou não”, explica o pesquisador, que também é diretor de transferência tecnológica do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (Cepi-Cemeai), que reúne diversas instituições e conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
“Nós colocamos os modelos para analisar mais de 100 mil notícias publicadas nos últimos cinco anos. Depois, confrontamos a plataforma com uma base de textos com informações falsas ou verdadeiras”, continua.
“Na base analisada, o índice de precisão está em torno de 96%”, informa Louzada.
Finalizados os primeiros testes, a plataforma precisará passar por constantes atualizações e melhorias, até porque as notícias falsas se adaptam e mudam com o passar do tempo, antevê o especialista.
Em busca de respostas para problemas reais
Louzada explica que a ideia de criar o algoritmo que identifica as notícias falsas surgiu no Programa de Mestrado Profissional em Matemática, Estatística e Computação Aplicadas à Indústria da USP de São Carlos.
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“Temos alunos que estão trabalhando no mercado e trazem problemas reais, que podem ser solucionados durante o mestrado”, detalha.
“Após uma reunião sobre quais problemas iríamos atacar, escolhemos fazer uma investigação sobre as fake news e, a partir daí, gerar um produto que pudesse ajudar as pessoas”, diz o especialista.
Como mencionado mais acima, a plataforma reúne uma série de modelos matemáticos que, por meio da inteligência artificial e do aprendizado de máquinas (machine learning, em inglês) determinam a probabilidade de uma notícia ser falsa ou verdadeira.
“Os modelos analisaram mais de 100 mil textos para encontrar padrões de vocabulários, construção de frases e sintaxe que são comumente utilizadas em fake news”, informa Louzada.
Depois de “aprender” a estrutura típica das notícias falsas, o algoritmo passou por uma nova fase: a análise direta de um banco de dados de textos classificados de acordo com a veracidade (ou não) das informações.
E foi justamente nessa segunda etapa de testes que os pesquisadores observaram que a plataforma conseguiu identificar as fake news com 96% de precisão.
Louzada pondera que essa taxa de 96% corresponde apenas à base de dados avaliada nesse estudo experimental, e é possível que o número varie num cenário mais amplo e fora do ambiente controlado de pesquisa.
Um trabalho que nunca termina
O grupo da USP de São Carlos também tem em mente que, para continuar funcionando, o algoritmo precisa passar por diversas atualizações com o passar do tempo.
“O processo de modelagem matemática é crescente e necessita de incrementos a todo momento”, aponta Louzada, que classifica essa constante batalha como “uma corrida de gato e rato”.
“Precisamos expor a plataforma a novos vocabulários e construções de frases, até porque as fake news se adaptam de acordo com as novas barreiras que são impostas”, conta.
O estatístico informa que a equipe que cuida do algoritmo está aumentando e eles planejam transferir os dados para um servidor de internet mais seguro, que consiga resistir aos ataques hackers.
“E precisamos ter um cuidado redobrado, pois nada garante que o modelo seja usado pelos próprios criadores de notícias falsas, para ver se os conteúdos que eles criaram passam no nosso crivo ou não”, complementa.
Como unir o melhor dos dois mundos
Louzada também acredita que plataformas informatizadas que distinguem o que é verdadeiro ou falso não vêm para substituir as agências de checagem, que contam com profissionais capazes de investigar as origens de cada notícia.
“Imagino que o futuro terá uma estrutura de interação entre homens e máquinas”, aposta.
“Assim, conseguimos unir o melhor dos dois mundos: a objetividade da inteligência artificial com a subjetividade e a ponderação do ser humano”, diz.
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